terça-feira, 18 de julho de 2017

The Longest Night



Hubert Haensel (2016). Perry Rhodan Lemuria #6: The Longest Night. Rastatt: PMW.

A conclusão da saga Lemuria traz-nos um prenúncio de apocalipse, que será evitado por circunstâncias inesperadas. O poder adormecido das Bestas, antepassados dos Halutianos, manifesta-se no acordar de bases secretas onde, durante milénios, o armamento este pronto para construir naves de combate e tanques regeneraram continuamente corpos de soldados, prontos para o conflito final. Apesar de formidáveis, já não representam o perigo que quase exterminou Lemuria. Passaram-se milhares de anos, e a tecnologia das civilizações galácticas que se sucederam avançou e é capaz de derrotar as temíveis Bestas.

Perry Rhodan e os seus companheiros, presos no planeta onde foi descoberta a primeira base oculta, exploram os seus vastos antros até à inevitável captura. Levados para outra base oculta, sobrevivem às torturas e interrogatórios, sendo salvos por soldados Bestas que se começam a questionar sobre se a razão inquestionável dos seus líderes é absoluta. O exemplo do halutiano Tolot mostra-lhes que a fúria cega da missão para a qual foram criados não é correta, e que as próprias premissas da sua formação poderão estar erradas.

Levian Paronn oscila entre o papel de vilão, pela sua vontade de utilizar paradoxos temporais para restaurar a antiga Lemuria, e o de herói melancólico, amargurado pela perda do seu passado, incapaz de compreender a evolução trazida pelo futuro onde vive. Com naves geracionais lemurianas ainda a sulcar os golfos espaciais, poderá ter ainda um papel no renascer da civilização que o formou, já sem ser capaz de anular milénios de história, mas a guiar os descendentes das naves.

O final da saga traz-nos momentos de grande acção, de nível épico, com as batalhas pela destruição das bases secretas das Bestas a unir as diferentes civilizações humanas. E, também, algumas revelações. O início da saga, com Rhodan como passageiro de uma nave de prospeção mineira (cuja tripulação terá um papel heróico em toda a saga), não foi um acaso. Rhodan escolheu esse subterfúgio para poder entrar nas zonas espaciais controladas pelos Akonianos, civilização isolacionista, e investigar rumores que circulavam entre agências secretas sobre vestígios encontrados por Arkónidas num sítio arqueológico num planeta deserto, uma base secreta dos Bestas que avariou. Ir a Akon na sua qualidade de representante da liga terrestre traria dificuldades que uma aproximação discreta evitaria. No entanto, no Perryverso, aventuras calmas é coisa que Rhodan não tem.

Esta divertida saga é uma rara amostra, traduzida para inglês pela editora alemã, da vastidão deste universo ficcional. Um historial incrível de edição, contínua desde os anos 60 do século XX, com mais de quatro mil livros. Um manancial acessível apenas aos conhecedores da língua alemã, salvo algumas excepções em traduções francesas, americanas ou brasileiras. O fã de FC que há em mim, por um lado, lamenta este desconhecimento de um universo ficcional de FC tão rico como o Perryverso. Por outro, trata-se de uma série comercial, impossível por isso de levar muito a sério. Leituras fragmentadas encontradas aqui e ali podem criar a expectativa de uma ficção de qualidade homogénea, mas sabemos bem que o caráter episódico deste género de literatura se traduz numa continuidade mecanizada de episódios, a maior parte dos quais facilmente esquecidos, em escritas mecânicas que vão avançando histórias intermináveis e fundamentalmente repetitivas. Algo que qualquer leitor de comics percebe bem. Numa FC que cada vez mais se assume como um género literário reflexivo, atento à qualidade narrativa e sólido nas suas especulações, é fácil desconsiderar este género de publicações. No entanto, o Perryverso não deixa de ter os seus pontos de interesse, nem que seja por ser, talvez, um dos últimos exemplos da clássica FC pulp ainda hoje em edição e desenvolvimento contínuo.