quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Jessica Jones: Alias, Vol. 1


Brian Bendis, Michael Gaydos (2016).  Jessica Jones: Alias, Vol. 1. Maspalomas: G.Floy.

Suspeito que o grande mérito desta série seja o mostrar que, para argumentistas que se atrevam a forçar um pouco a coisa, os limites dos comics podem ser contornados. Em termos temáticos, há pouca volta a dar nos comics de super-heróis. Podem ser mais heróicos, mais grimdark, mais ambíguos, mas no fundo são o de sempre. Seres com poderes impossíveis, a protagonizar lutas dualistas onde o bem triunfa inevitavelmente sobre o mal.

Jessica Jones quebra esse paradigma. É um comic de super-heróis que evita os super-heróis. A sua protagonista foi uma membro menor de super-equipas, mas voltou as costas ao mundo dos uniformes e lutas para se tornar detective privada. Lutando para pagar as contas, aceitando habitualmente casos de esposas que querem saber com quem os seus maridos as andam a trair (uma boa desculpa para brincadeiras com fóruns online para gays que vivem dentro do armário). Nas duas primeiras aventuras da série, coligidas nesta edição portuguesa da G.Floy, Jessica Jones vai-se ver em apuros mais fortes quando os casos de pessoas desaparecidas em que se vê envolvida se revelam mais do que esperava. Num, é usada como peão numa conspiração para tentar desmascarar a identidade secreta do Capitão América. Noutro, os traumas de se ser um teenage sidekick de super-heróis são desenrolados com a busca por um Rick Jones que desapareceu para se livrar de uma mulher apaixonada. O argumentista atreve-se a ser realista com a sua personagem, dando-lhe medos muito reais, momentos de profunda normalidade, explorando vulnerabilidades emocionais, enquanto se socorre da presença fugaz dos heróis da Marvel para nos recordar que as suas histórias de detective se passam num contexto muito específico.

Para além do bom humor, negro quanto baste da série, outro traço que a distingue é a forma como todo o universo Marvel, na qual está inserido, é um mero elemento do cenário, omnipresente mas distante. Este comic de super-heróis consegue fugir aos lugares comuns, ao expectável, andando nas fímbrias destes universos ficcionais para contar histórias. Dentro de uma vertente da banda desenhada que está sobrevalorizada, profundamente explorada e que tenta constantemente passar o que no fundo é o mesmo de sempre como inovação e vanguarda narrativa, este título consegue, realmente, explorar uma vertente nova no género.